Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da Ajuda

19 junho 2013

Como tinha dito no post anterior, na minha visita á capital, tive a oportunidade de ver a exposição de Joana Vasconcelos que se encontra patente no Palácio Nacional da Ajuda, onde reúne obras icónicas realizadas pela artista durante a última década: A Noiva, Coração Independente ou Marilyn são algumas dessas obras, agora apresentadas lado a lado com outras mais recentes como Lilicoptère, Perruque ou War Games, nunca antes expostas em Portugal




Joana Vasconcelos é uma artista que dispensa grandes apresentações. Desde que, em 2000, venceu o prémio EDP Novos Artistas, construiu uma carreira em sentido ascendente, que a coloca neste momento como uma das artistas mais importantes e reconhecidas a nível mundial. No ano passado, tornou-se na primeira mulher e na mais jovem artista a expor no Palácio de Versalhes, numa exposição visitada por 1,679 milhões de pessoas, tornando-a a exposição mais visitada em Paris nos últimos 50 anos. 



O Palácio Nacional da Ajuda é uma magnífica obra da arquitetura portuguesa. Construído na primeira metade do século XIX, o Palácio da Ajuda foi o local de residência oficial da monarquia portuguesa até à instauração da República. Em 1968 abriu ao público como museu, constituindo um dos mais importantes museus portugueses de artes decorativas. O Palácio conserva ainda os aposentos reais, mantidos fiéis à época após apurados trabalhos de restauro e reconstituição histórica. O diálogo entre as obras da artista e os interiores únicos do Palácio Nacional da Ajuda transformou esta exposição no acontecimento mais marcante da arte contemporânea em Portugal. 

Relativamente á exposição, as peças que mais se destacaram, na minha opinião, foram: 
- As peças cobertas de crochê, inspiradas no bestiário de Bordalo Pinheiro (Imarí, Esther, Amélia, Alorna, são alguns dos exemplos que se seguem entre muitos outros). 





- War Games (2011), o primeiro carro de Joana Vasconcelos, um automóvel preto, modelo Morris Oxford da década de 60, agora transformado numa fantástica obra de arte. 




- Carmen (2001), sob a forma de um lustre de silhuetas rotundas, a obra de Vasconcelos, homónima da ópera de Bizet, constrói-se com fitas em veludo negro e vulgares brincos coloridos em plástico, combinando a erudição operática, a cerimonialidade trágica e a vulgaridade festiva. Feminina, colorida e sedutora, vazia e suspensa como o fim trágico que se anuncia no negro do veludo, Carmen opera, mais uma vez, na instável intersecção dos gostos erudito e popular, agora livres dos antigos constrangimentos de classe. 



- Marilyn (2011), que assume a forma de um elegante par de sandálias de salto alto, cuja escala ampliada resulta do uso de panelas e respetivas tampas. Posicionado quase simetricamente, o par remete à figura ausente de Marilyn Monroe. A improvável, mas assertiva, associação de panelas e sandálias de salto alto, dois símbolos paradigmáticos dos domínios privado e público da Mulher, propõe-nos a revisão do Feminino à luz das práticas do mundo contemporâneo. O recurso a panelas, signo ao qual associaríamos a tradicional dimensão doméstica da Mulher, para reproduzir uma enorme sandália de salto alto, símbolo da beleza e elegância exigidas no desempenho social, contradiz a impossibilidade da relação dicotómica do Feminino nos planos doméstico e social. O efeito Gullivere a monumentalidade do objeto representado irrompem como panegíricos da dualidade feminina, insinuando a realização plena da individualidade através da subversão dos normativos sociais impostos. 



- Coração Independente Vermelho (2005), apresenta-se sob a forma de um enorme coração de Viana, peça icónica da filigrana portuguesa, pacientemente preenchido com talheres de plástico vermelho. Suspensa a partir do eixo, a obra executa um movimento rotativo circular, evocativo dos ciclos da vida e do eterno retorno, acompanhado pelo som de três expressivos fados, “Estranha Forma de Vida”, “Gaivota” e “Maldição”, interpretados por Amália Rodrigues, diva da música portuguesa da segunda metade do século XX. O título da peça é precisamente retirado de um dos versos do primeiro fado, da autoria de Alfredo Duarte (Marceneiro) e Amália Rodrigues, cuja lírica evoca o conflito entre emoção e razão. Ao multiplicar o uso de vulgares talheres de plástico até à abstração da sua forma original, para os converter numa obra de arte inspirada numa valiosa peça de filigrana, os referentes inicias surgem transfigurados por novos esquemas sociais e artísticos sugeridos, expondo, assim, a artificialidade das fronteiras traçadas entre luxo e banalidade. Coração Independente Vermelho apresenta-se como uma poderosa e emotiva instalação sonora e cinética dedicada ao amor, um dos temas recorrentes nas líricas do fado. 



- A Noiva (2001-2005), é reconhecível à distância, o imponente lustre, digno de pontuar o mais nobre dos salões europeus, exibe uma cândida cascata de pendentes brilhantes. Os milhares de pendentes, que julgávamos vidros ou cristais brilhantes, são afinal imaculados tampões higiénicos femininos. Compreendemos agora que o brilho resulta antes dos reflexos sobre os plásticos transparentes que envolvem os milhares de tampões d’A Noiva; obra assim nomeada para sujeitar a imposição de uma sexualidade feminina hipócrita e reprimida à ação corrosiva da ironia e da ambiguidade. 



- Lilicoptère (2012), é um helicóptero revestido a folha de ouro e decorado com milhares de brilhantes vê o exterior da cabina e as pás das hélices invadidos por uma extravagante e colorida cobertura de penas de avestruz, em tons salmão, rosa e laranja. A pequena abertura na frente da cabina, olho que as penas não ocuparam, revela um interior sumptuoso, de madeiras trabalhadas, dourados e tapetes bordados; assumido microcosmos anacrónico e máquina do tempo. Lilicoptère oferece-nos uma estética rica, glamourosa e arrojada para sugerir a metamorfose da máquina em animal; regresso às origens e à inspiração que serviu a concretização do sonho do homem em voar.























É, sem duvida, uma exposição fantástica que quem tiver oportunidade deveria de ver e apreciar estas maravilhosas obras de Joana VasconcelosA exposição ficará ate dia 25 de Agosto, no Palácio Nacional da Ajuda.

Fonte: Os textos e imagens (pois não se podia usar flash e as minhas fotos não estão com grande qualidade) foram retirados do sitio oficial na internet: www.joanavasconcelos-pnajuda.pt

6 comentários:

  1. Respostas
    1. ou se visitasses Lisboa (o que aconteceu no meu caso, pois sou do Norte) :)

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  2. Adoro a Joana Vasconcelos. Foi preciso darem-lhe valor lá fora para agora ter algum reconhecimento.

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    1. Verdade, só apos o reconhecimento em Versalhes, que Joana Vasconcelos ficou mais conhecida, infelizmente.

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  3. loving this!! xx

    www.theunwrittenstyle.blogspot.com

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